Senadora revelou ter recebido convites do PSDB, do PRB e do Solidariedade
Senadora revelou ter recebido convites do PSDB, do PRB e do Solidariedade | Foto: Fabiano do Amaral.
Ao liderar a lista de políticos suspeitos de participação no esquema de corrupção da Petrobras, o Partido Progressista sofre as consequências do escândalo mesmo fora do âmbito da operação Lava Jato. A senadora Ana Amélia Lemos (RS), que não consta no grupo de 30 nomes da sigla que serão alvo de investigação, admite que o prejuízo para o PP é grande e vai avaliar a possibilidade de deixar a legenda. Em entrevista, ela revelou ter recebido convites do PSDB, do PRB e do Solidariedade.
"Que o partido sai enfraquecido não há dúvida", disse Ana Amélia. Ela lembrou o exemplo do PP do Rio Grande do Sul, que teve cinco de seus seis deputados federais incluídos na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. "O desgaste político da simples inclusão desses cinco nomes é irreparável. Mesmo que sejam inocentados, o desgaste político existe", afirmou.
O único representante da bancada gaúcha do PP na Câmara que ficou de fora é Covatti Filho, cujo pai, o ex-deputado Vilson Covatti, também teria recebido propina, de acordo com o depoimento do doleiro Alberto Youssef. Segundo Ana Amélia, é preciso prudência para não cometer injustiça com os colegas que estão sendo investigados pelo Ministério Público, mas ainda não foram denunciados. No entanto, ela ressalta que prudência não significa "tolerância com a impunidade", e defende que os políticos que forem denunciados sejam expulsos do PP. "O partido não pode ser complacente com nenhum delito, nenhum crime, nenhum ato de corrupção", avaliou.
Ana Amélia argumenta que o governo federal tinha conhecimento de que o PP estaria no centro das investigações da Lava Jato e, por isso, tirou do partido o Ministério das Cidades no início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), antes de a lista de Janot vir a público. Segundo a senadora, esta é uma evidência de que a legenda, nacionalmente, perdeu a expressão que tinha. "Foi uma demonstração de que o governo já sabia que o partido seria atingido profundamente e se antecipou a este processo", disse.
A parlamentar gaúcha admite que será necessário examinar as alternativas para um futuro de médio e longo prazo no PP. "Teremos condições de depurar o partido, de limpar o partido, de expurgar os que cometem o delito? Não teremos? Então, poderemos ir para o plano B. Qual é o plano B? É sair do partido", revelou.
Antes de uma eventual mudança, Ana Amélia disse que consultará a base do PP no Rio Grande do Sul e tomará uma decisão coletivamente. "Muitas pessoas eu chamei para serem vereadores, para se filiarem ao partido, e fizeram isso por meu convite. Então, não posso deixá-las, preciso discutir com elas qual será nosso destino", justificou, ressaltando que a estrutura política do PP gaúcho - com cerca de 230 mil filiados e um número expressivo de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores - pesará na avaliação.
A senadora, que se define como independente, está mais alinhada com as forças de oposição ao governo Dilma, na contramão do diretório nacional do PP, que integra a base governista. Nas últimas semanas, foi procurada por três partidos. No início de fevereiro, recebeu o convite dos senadores Aécio Neves, que disputou a eleição presidencial, e Aloysio Nunes Ferreira, que concorreu como vice na mesma chapa. Ana Amélia fez campanha para eles no Estado. "Me convidaram para ir para o PSDB para o partido ter um protagonismo maior no Rio Grande do Sul", afirmou.
Depois, veio o convite do senador Marcelo Crivella, do PRB, que faz parte da base do governo. Nos dois casos, os contatos ocorreram antes da divulgação dos nomes que seriam investigados por envolvimento nos casos de corrupção da Petrobras. Mais recentemente, foi chamada também pelo deputado federal Paulinho da Força para integrar o Solidariedade. Essas três siglas apoiaram sua candidatura ao governo gaúcho no ano passado.
Governo federal
Ana Amélia pondera que hoje o País vive uma crise política, econômica e ética, e associa a tensão entre o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto à falta de diálogo da presidente Dilma. "O governo, que tem uma maioria folgada no Congresso, precisa ser mais proativo nesse processo (de articulação). A presidente não tem muito gosto por aquilo que o antecessor (o ex-presidente Lula) tinha, que era conversar, reunir os políticos. Talvez isso contribua para esse afastamento", avaliou.
Ela também diz que o governo erra ao "exigir sacrifícios dos trabalhadores e do setor produtivo" sem antes "fazer a sua própria parte" em prol do ajuste das contas públicas. "É cortar gastos, reduzir o número de ministérios. Tem que dizer: 'Nós tivemos equívocos, mas vamos agora tomar a iniciativa de cortar na própria carne'. Se diz isso, obtém o maior crédito da sociedade, dos agentes políticos e dos trabalhadores. Mas o governo diz que a crise decorre da situação internacional e não mexe em toda sua estrutura governamental. Aí vai pedir sacrifícios, vai tirar direito dos trabalhadores, ameaça com aumento de tributação. Tem que tomar medidas mais criativas e inteligentes nesse processo".
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