A Uber, startup de São Francisco (EUA), deu o start ontem às suas operações em Porto Alegre. Exatamente às 15 horas, o serviço foi ativado, o que fez com que o diretor-geral da empresa no Brasil, Guilherme Telles, 32 anos, desviasse o olhar por alguns segundos da entrevista que concedia ao Jornal do Comércio, em um café da Capital gaúcha, para acompanhar, orgulhoso, os primeiros carros que apareciam disponíveis pelo aplicativo no seu smartphone. Parte desse buzz gerado sempre que a Uber inicia o seu serviço se dá pela ansiedade dos consumidores em receber um serviço de transporte que promete a tecnologia dos apps associada a carros novos e, especialmente, gentileza no atendimento por parte dos motoristas. A outra parte está relacionada à polêmica que o serviço provoca, especialmente com os taxistas, que consideram uma concorrência desleal. Por isso mesmo, já viraram rotina as conversas dos gestores da startup com representantes do poder público dos municípios em que atuam, para tentar criar uma alternativa que agrade a todos. "A nossa percepção é de que Porto Alegre é especialmente aberta a coisas novas e estamos muito dispostos a conversar com os seus representantes. Acredito, inclusive, que a cidade tem toda capacidade de criar uma regulamentação que sirva de modelo para o País", afirma Telles.
Jornal do Comércio - A Uber chega a Porto Alegre contando com uma grande expectativa dos usuários pelo serviço e, ao mesmo tempo, enfrentando as já tradicionais resistências. Como lidar com isso?
Guilherme Telles - Sempre que surge coisa nova, a primeira reação das pessoas é resistir. Depois, tentam colocar isso dentro de algo que já existe, como algumas cidades que criaram projeto de lei que tenta enquadrar a Uber como táxi. Mas, a verdade, é que não pode pegar algo novo e encaixar em regulamentação criada no século passado. Isso nunca vai dar certo. Chegamos para ser um serviço complementar ao transporte público. Nosso foco é transformar as cidades em um lugar melhor. Já temos 700 mil usuários e 7 mil motoristas parceiros. Se o nosso serviço for bem utilizado, cada carro pode tirar de cinco a 20 das ruas, melhorando muito o trânsito e a vida de todo mundo. Se os motoristas parceiros e os usuários estão satisfeitos - a média da nota dada pelos usuários ao final do trajeto é de 4,8, 97% de satisfação -, se estou cumprindo com minha visão, porque vou parar? Só porque estou incomodando um grupo corporativista que tem interesses diferentes dos meus? Fazer isso seria contra o que a gente acredita, seria um ato covarde.
JC - Qual é a saída para se criar um ambiente que contemple a atuação de empresas como a Uber e os serviços tradicionais de transporte?
Telles - A Uber está em 365 cidades, 64 países e, em todos lugares, ou já fomos regulamentados ou estamos em via de ser. A única exceção é a Espanha, onde fomos temporariamente suspensos. O serviço que estamos oferecendo é legal. No Brasil, existe a Lei nº 12.587, o Plano de Mobilidade Nacional, que diz que existem duas modalidades de transporte: o transporte público individual, prestado pelo taxista e regulado pelos municípios, e o transporte privado, que é o caso da Uber e de empresas com serviços como o nosso. O que a gente espera é que, quando surja algo novo, o poder público não barre, mas crie uma regulamentação especial capaz de suportar esse progresso. Uma alternativa é a criação de um Marco Civil da Economia Compartilhada, para estabelecer direitos e deveres para usuários, empresa e poder público.
JC - Por que a opção por iniciar com o UberX em Porto Alegre?
Telles - Todo início de operação é marcada por uma grande procura pelos nossos serviços. Muitas pessoas querem usar, até pelo buzz que é gerado, e é difícil ter um número de motoristas suficiente para atender todos em tão pouco tempo. Essa situação costuma permanecer por algumas semanas, até se normalizar. Optamos pelo UberX, justamente, porque essa modalidade contempla a oferta de carros mais compactos, que costumam estar disponíveis em maior número nas cidades. Se iniciássemos pelo UberBlack, que prevê uma outra categoria de veículos, demoraríamos muito mais tempo para equilibrar a demanda e a oferta. O custo do UberX é cerca de 25% mais barato que o serviço de táxi.
JC - Qual o tamanho da operação da Uber em Porto Alegre nesse momento?
Telles - Temos um time de lançamento que está coordenando todo esse processo inicial. São três pessoas que vão de cidade em cidade para trazer os primeiros motoristas e clientes. Acabamos de contratar um gerente de marketing e estamos em busca de um gerente-geral e gerente de operações para Porto Alegre.
JC - Quantos motoristas a empresa projeta ter?
Telles - Não fazemos projeções. Quanto mais motoristas tivermos mais rápido vamos crescer. Mas, temos um processo de seleção rigoroso e queremos ter um crescimento sustentável. Se tem muito usuário e pouco motorista, o tempo de espera é alto e as pessoas não gostam. Mas, se a cidade para de crescer e continuamos cadastrando motoristas, eles não vão ganhar dinheiro. Então, vamos observando o mercado e equilibrando a oferta e a demanda.
JC - Como um motorista se torna parceiro da Uber?
Telles - Eles precisam nos apresentar documentação como carteira de motorista especial que permite atividade remunerada e passar por verificações como de antecedentes criminais tanto na esfera estadual como federal, teste psicológico, entre outros. Só depois disso se torna motorista parceiro. No site http://www.parceirospoa.com/ tem todas as informações e, inclusive, os modelos de carros aceitos.
JC/Blog do Capitão Fernando
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