Romaria da Terra foca na agricultura familiar como esperança para o campo
Depois de dois anos sem ser realizada de forma presencial devido à pandemia, a Romaria da Terra do Rio Grande do Sul teve sua retomada marcada, nesta terça-feira (1º), por momentos de reencontros, devoção e esperança. O evento, que tradicionalmente ocorre no feriado de Carnaval, aconteceu em Ilópolis, no Vale do Taquari, reunindo cerca de 1.600 pessoas de todas as regiões do Estado. Além da demonstração de fé, a defesa da agricultura familiar e da produção de alimentos saudáveis esteve em evidência nesta 44ª edição.
A Romaria deste ano não teve a tradicional procissão por causa da chuva. A celebração eucarística, presidida pelo bispo diocesano Dom Aloísio Alberto Dilli, aconteceu no salão do centro cultural do município e destacou a importância dos cuidados com a terra. Dois dos principais pontos tratados foram sobre a agricultura familiar e o combate à fome no país, com defesa de uma agricultura que respeite a vida e que tenha incentivos à produção de alimentos saudáveis.
Entre os romeiros estavam o ex-governador Olívio Dutra, o presidente da Assembleia Legislativa, Valdeci Oliveira, e o deputado Edegar Pretto (PT), que começou a participar da Romaria da Terra em 1982, ainda criança. Edegar reforçou o papel da Romaria diante das dificuldades que o setor enfrenta no Estado, principalmente pela maior seca das últimas décadas, em que mais de 420 municípios já decretaram situação de emergência e famílias ainda aguardam ajuda dos governos.
“A Romaria nos traz um belo momento de renovação da fé e do nosso compromisso de lutar por esses homens e mulheres que tanto precisam do poder público. A agricultura do Rio Grande do Sul pede socorro. A Romaria é também um momento de celebração e de reflexão da importância que esse setor tem, especialmente na produção de alimentos”, ressaltou Pretto, que coordena a Comissão de Representação Externa para acompanhar os impactos da estiagem no RS e a Frente Parlamentar em Defesa do Crédito Emergencial para a Agricultura Familiar, ambas instaladas pela Assembleia Legislativa.
Conforme Oldi Jantsch, agricultora e coordenadora da CPT, o drama da estiagem e o abandono da agricultura familiar por parte dos governos motivaram as abordagens do evento. Ela explicou que é indispensável a preservação das sementes crioulas para enfrentar o atual momento de crises, bem como fazer investimentos na agricultura familiar, sobretudo para incentivar a juventude a permanecer no campo.
“Num gesto de solidariedade, nós guardamos sementes no freezer para garantir a continuidade da produção depois dessa seca horrível, em que muitos não conseguiram colher. Também debatemos com as famílias sobre a agricultura ecológica, envolvendo toda essa questão política e os maus-tratos à natureza. A CPT tem a missão de fazer com que nossos agricultores digam não aos venenos e aos transgênicos”, revelou.
Desde a sua origem, em 1978, esta é a segunda vez que o evento ocorre no Vale do Taquari – a primeira foi em 2005, em Cruzeiro do Sul. Ilópolis tem pouco mais de 4 mil habitantes e se localiza no principal polo ervateiro gaúcho. O município se destaca na atividade econômica, inclusive produzindo erva-mate orgânica. Por sua forte característica na pequena propriedade e produção de alimentos, foi escolhido para receber o evento religioso, que teve como tema “Agricultura Familiar e Agroecologia: Sinais de Esperança”. A organização foi da Regional Sul 3 da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Diocese de Santa Cruz do Sul.
Ainda durante a celebração da Romaria, foram lembrados nomes de pessoas assassinadas na busca por um país mais justo e sustentável, como a vereadora Marielle Franco, o ambientalista Chico Mendes, a missionária Dorothy Stang, a trabalhadora rural sem terra Roseli Nunes, entre outros. Ao final, teve benção dos alimentos e envio dos romeiros e romeiras, que levaram para casa uma muda de erva-mate como lembrança.
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